O roteiro cinematográfico "NAU 444 – A Despedida do Sateré Mawé" será lançado no dia 28 de julho em formato digital na página da Associação dos Artistas Cênicos do Amazonas - Artefato (@aaca_artefato). Escrito por Douglas Rodrigues, com colaboração de Zeudi Souza, o projeto marca uma nova incursão do teatro ao audiovisual a partir de uma tragédia real: o assassinato de Melquesedeque Santos do Vale, jovem indígena de apenas 18 anos da etnia Sateré Mawé, morto dentro de um coletivo público na cidade de Manaus em 2021.
O roteiro, concebido com apoio do Conselho Estadual de Cultura (CONEC), Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC), Lei Paulo Gustavo e Ministério da Cultura, vai muito além da denúncia. Trata-se de uma obra densa, que escolhe o cinema como território para transformar dor coletiva em reflexão política, social e estética.
Douglas Rodrigues, autor do argumento e roteiro, mergulha em paralelos profundos com outros episódios marcantes da história brasileira, como o caso de Sandro Barbosa do Nascimento — sobrevivente da Chacina da Candelária e protagonista do sequestro do ônibus 174, retratado por José Padilha no documentário Ônibus 174. Assim como Padilha, Rodrigues não busca julgamentos fáceis, mas sim a compreensão de um ciclo de exclusão social e abandono estatal que atravessa o tempo e as geografias do país.
“O roteiro mergulha no universo social do Brasil, cuja violência das grandes metrópoles, a partir da construção errônea da sociedade brasileira reverbera no dia a dia das metrópoles. É evidente que a obra dialoga com a estética do cinema nacional e mergulha nos clássicos do cinema brasileiro, na retomada atual", pontua Douglas.
A primeira cena do roteiro de NAU 444 mergulha nos ‘inferninhos’ da década de 1960, na cidade flutuante de Manaus. "As primeiras cenas são um autêntico exercício social. O filme começa a explorar os garotos de rua e a violência. A sequência mostrada nua e crua pela sociedade, rica em desigualdades sociais caracteriza as cenas iniciais, destacando a cidade flutuante, e as violência dessa área. Importante destacar: a cidade foi criada pelo abandono aos nordestinos no auge do segundo ciclo da borracha", relembra Rodrigues.
Luto coletivo
A morte de Melquesedeque causou comoção na capital amazonense. Mulheres indígenas tomaram as ruas exigindo justiça, em uma manifestação que foi além do luto materno e coletivo: tornou-se um grito por políticas públicas, por amparo social, por respeito aos povos originários. É dessa dor e dessa urgência que nasce NAU 444, cuja construção dramatúrgica se deu a partir de processos de escuta, referências cruzadas e o método da “maiêutica”, resgatando memórias profundas e coletivas.
Segundo Zeudi Souza, Douglas traz uma trajetória consolidada no teatro com temáticas indígenas. “Conhecido por trabalhar as temáticas indígenas e por ser um homem indígena, ele tem feito um lindo trabalho para o teatro, e agora sua escrita vem com esse olhar de pensar as nossas tragédias como cinema”, destaca.
O roteiro propõe um trânsito entre o ancestral e o contemporâneo, entre saberes indígenas e o colapso do urbano. Fala de garotos de rua, da formação histórica das favelas de Manaus e do abandono herdado desde o ciclo da borracha. Douglas reafirma que o roteiro, protagonizado por um personagem indígena, dialoga com os grandes clássicos do cinema nacional, como Pixote, Carandiru e Cidade de Deus, buscando não repetir fórmulas, mas ampliar a perspectiva a partir da Amazônia.
Acesso e futuro
O lançamento virtual contará com versões que atendem aos quesitos de acessibilidade e QR Codes que facilitarão o acesso ao roteiro, inclusive com conteúdos explicativos sobre a história e os bastidores da produção. A expectativa é que o roteiro, uma vez publicizado, sirva como base para a captação de recursos e produção de um longa-metragem.
“O primeiro passo já foi dado. Creio que o roteirista Douglas Rodrigues tem uma história muito forte em mãos e, depois que o roteiro estiver publicizado, o próximo passo é buscar financiamentos por meio de editais de incentivo para a produção do longa. É importante destacar a importância da Lei Paulo Gustavo no estímulo à criação de roteiros. Temos a oportunidade de apresentar ao mercado cinematográfico criações sob a ótica de quem escreve, e isso está posto aos interessados. O trabalho de investigação necessita, acima de tudo, de tempo, e somente um edital focado na criação pode ofertar esse suporte”, afirma Zeudi.
Uma história urgente
Para Zeudi Souza, falar sobre NAU 444 é uma necessidade do agora. “Estamos diante de uma geração de artistas inquietos, com sede de contar histórias sobre nós, amazônidas. Existe uma curiosidade do mundo sobre o que temos a dizer — estive em Cannes, na Mallorca Film School, e isso ficou muito claro. O mundo quer ouvir a floresta. Mas mais do que isso: quer ouvir a humanidade que habita nela".
Zeudi finaliza: “Essa obra não fala de floresta como cenário. Ela fala de vidas. Fala da cor da nossa gente, do sotaque, da comida, das fronteiras do corpo e da dança. Fala da cidade encravada na Amazônia e das tragédias que vivemos. E é chegada a hora de falarmos sobre nós, por nós".
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