A origem do Boi Garantido: fé, tradição e resistência cultural


O Boi Garantido foi criado em 1913, data que é considerada oficialmente como o ano de fundação da agremiação, embora não existam registros documentais desse marco histórico. O responsável por dar vida ao bumbá foi Lindolfo Monteverde, figura que até hoje simboliza a essência e os valores do Garantido, detentor de 33 títulos no Festival de Parintins.

O nome “Garantido” nasceu ainda na infância de Lindolfo. Aos 11 anos, ele pediu à mãe para participar da brincadeira de boi, mas ouviu que aquilo era coisa de adulto. Foi então que prometeu: um dia teria seu próprio boi, onde todas as crianças poderiam brincar — e o nome seria Garantido.

Anos depois, Lindolfo adoeceu gravemente e fez uma promessa a São João: se fosse curado, criaria um boi-bumbá para sair pelas ruas todos os anos no dia 24 de junho, dia do santo. A graça foi alcançada e a promessa cumprida. Desde então, a tradição se repete: uma missa é celebrada no antigo curral do boi e, ao final, o Garantido sai em cortejo pelas ruas da ‘Baixa do São José’, com sua batucada e vaqueirada, em agradecimento. As cores vermelho e branco, que identificam o bumbá, teriam surgido justamente da ligação com São João.

A ‘Baixa do São José’, situada na parte oeste de Parintins, é o berço do Boi Garantido. Lá está o “curral antigo”, local de encontros, ensaios e celebrações religiosas como as festas de Santo Antônio e São João, influenciadas fortemente pela tradição católica, traço marcante da cultura local.

O Garantido carrega o espírito de uma comunidade de raízes afro-indígenas, formada por gente simples e orgulhosa de sua identidade. Ao longo de sua história, o bumbá tem sido um porta-voz das lutas sociais e das pautas contemporâneas, exaltando em suas toadas e espetáculos temas como o combate ao racismo, a intolerância religiosa, a desigualdade de gênero e o etnocentrismo — sempre valorizando a riqueza cultural da Amazônia e a preservação de suas tradições.

Fonte: da Redação do site Porto de Lenha